Ao longo da minha vida tenho alternado frequentemente entre o palco e a plateia da sala de aula apreciando os dois papéis e avaliando a dificuldade de cada um deles, nada melhor para avaliar um papel do que nos colocarmos nele. Mas desta vez fui ocupar o palco da escola que frequentei durante 4 anos, na altura do 3º ao 6º anos do liceu, agora seria do 7º ao 10º ano, a atual Escola Secundária Rainha D. Leonor. Olhei para aqueles alunos que silenciosamente me ouviam ou ordeiramente colocavam questões ou respondiam às minhas perguntas e vi-me também lá sentada.

Eu era uma aluna atenta e muito calada que adorava participar em atividades que a Escola Preparatória Luís António Verney que tinha frequentado nos dois anos anteriores nos facultava, mas na altura o liceu não nos proporcionava. Frequentemente quando pensava no Liceu Rainha D. Leonor pensava em como tinha detestado aquele tempo. Tinha frequentemente dores de estômago, os professores tinham connosco uma relação muito distante e a primeira aula que tinha tido lá tinha sido assustadora, em que a professora se tinha intitulado como a FERA. Sim, para mim era uma fera com letra maiúscula e quiçá tenha marcado o bater do meu coração de aluna naqueles anos. Apesar de nesses anos eu ter sido uma aluna média, algo apagada e escondida, não deixei de gostar de aprender e até da escola.
Quando ali de pé em frente aos alunos, lhes falava entusiasmada do projeto que lhes tinha ido apresentar, vieram-me à cabeça algumas situações que vivi naquela escola que afinal de contas foram muito boas. Situações divertidas, como o dia em que eu e uma amiga começámos a rir desalmadamente na aula de Lavores Femininos porque não conseguíamos enfiar uma agulha e a professora só nos desculpou porque era a primeira vez que acontecia. Situações de puro êxtase quando fui escolhida para ir cantar no Teatro São Luiz ou quando a professora de Inglês, de que ainda me lembro do nome, Olema Malheiro, nos desafiava a falar inglês de uma forma muito motivadora ou quando a professora de Físico-Química nos tratava carinhosamente. Na realidade no Liceu Rainha D. Leonor a vida acontecia, havia coisas motivadoras e coisas desmotivadoras, coisas alegres e coisas tristes, momentos bons e momentos maus,…
Foi muito bom ter ido à Escola Secundária Rainha D. Leonor, porque fui muito bem recebida, porque os alunos se mostraram muito interessados no projeto que lhes fui apresentar e de que vos falarei num próximo texto, mas também porque pude reequacionar a minha relação com o Liceu Rainha D. Leonor e pôr a fera, agora com letra minúscula, na posição que lhe é devida. O Liceu foi sem dúvida um local de aprendizagem de conteúdos disciplinares, de competências escolares e sociais e de crescimento pessoal.