A história dos minerais de quartzo apanhados nas Minas dos Carris há muitos anos

Quando eu era garota os meus pais tinham o hábito de nas férias grandes fazermos uns percursos de uma a duas semanas pelas belas terras portuguesas. Geralmente íamos mais para o interior uma vez que os outros 15 dias das férias eram dedicados à praia para podermos obter o iodo e a vitamina D que nos iriam permitir passar um inverno cheios de saúde.

No final dos anos setenta, porventura por sugestão minha, rumámos à serra do Gerês onde estabelecemos o acampamento base para os passeios pela serra. O nosso acampamento era constituído por uma tenda onde dormíamos os quatro da família, os meus pais, a minha irmã e eu, uma mesa, quatro bancos e um fogão de campismo. Acampámos num local lindíssimo, junto ao rio Homem, onde os desníveis permitiam a formação de cascatas e pequenas lagoas onde tomávamos gostosos banhos. Foi uma aventura extraordinária, já que naquele local não havia infraestruturas e não havia qualquer vedação. Durante a noite, quando ouvíamos o uivar dos lobos ou outros sons próximo da tenda, ficávamos em estado de alerta. Numa manhã, quando acordámos e abrimos o fecho da tenda, quem é que lá estava? Uma manada do típico gado bovino da serra do Gerês a circular em redor das tendas.

Uma vaca passeando-se entre as tendas e os carros.

Um dia o meu pai falando com outros campistas soube da possibilidade de fazer um percurso a pé para visitar as minas dos Carris. Eu fiquei entusiasmada, talvez mais do que o resto da família, e fizemos uma reunião do conselho familiar para analisar a possibilidade de ir até lá. Depois de conversarmos sobre os prós e os contras do passeio, lá decidimos ir até às Minas. Aconselharam-nos a irmos cedo pois o percurso demoraria algumas horas, ir e vir, sempre a pé.

Uma vista da Serra.

Num dia pela manhã bem cedo, com um belo farnel, que a minha mãe era bastante previdente no que toca a não passar fome, lá nos pusemos a caminho cheios de energia. Decidimos ir a pé pela estrada desde o acampamento até à Portela do Homem, onde começava o caminho para as Minas. A primeira hora de caminho, mais ou menos, pelo menos daquilo que me lembro, correu normalmente, mas… de repente o caminho tornou-se um percurso de obstáculos, muito cascalho e grandes blocos de granito ocupavam o caminho e por isso não nos bastava andar, tínhamos quase que escalar algumas dessas rochas. O sol entretanto subia no horizonte e o calor apertava. E a subida continuava. De vez em quando parávamos, bebíamos água, comíamos qualquer coisa e analisávamos a situação, se devíamos voltar para trás ou continuar, pois estávamos sempre à espera que aparecessem as Minas e ao fim de várias horas não havia sinal delas. Mas imbuídos do espírito de caminhantes lá continuámos. Lembro-me de que as paisagens eram extraordinárias, que atravessámos uma zona onde o percurso era mais fácil num planalto, de ver cavalos ao longe e de passar por grandes manadas de gado bovino a pastar. Ao fim de muitas horas lá avistámos as edificações abandonadas das Minas.

Sei agora que fizemos uma subida de cerca de 12km e vencemos um desnível de cerca de 800m, tendo atingido aproximadamente 1460m de altitude. Para 4 pessoas que não estavam habituadas a grandes caminhadas, não há dúvida que nos superámos.

Já na zona das Minas fiquei deslumbrada com os minerais que encontrava. Minerais de quartzo de variedades como quartzo fumado ou quartzo rosa abundavam pelo chão e também agregados de quartzo e feldspatos que eu ia encontrando e admirando. Nunca tinha visto minerais assim no seu meio ambiente e recolhi alguns que ainda hoje preservo e que já foram observados por muitas centenas dos meus alunos.

A Serra do Gerês é uma zona onde abundam os granitos que têm aproximadamente 290 a 300 milhões de anos. O granito é uma rocha magmática intrusiva, forma-se no interior da terra por solidificação do magma, e é constituído por quartzo, feldspatos, micas e anfíbolas. Apesar de se formar em profundidade esta rocha aflora à superfície, por movimentos ascendentes da própria rocha ou por erosão dos materiais sobrejacentes. Assim os minerais que eu ia encontrando tinham sido removidos da rocha aquando da exploração mineira para a recolha de volfrâmio e outros minérios.

A caminhada de regresso ao acampamento, apesar de ser quase sempre a descer, também não foi fácil pois continuámos a ter que escalar rochas e escorregar no cascalho, para além do cansaço acumulado nas muitas horas da subida. Chegámos já o sol se aproximava do horizonte, depois de cerca de 12 horas na serra e com o corpo a precisar de descanso.

Foram umas férias memoráveis.

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