Avaliar a qualidade do ar usando cascas de árvores

A qualidade do ar é extremamente importante para a preservação da saúde das pessoas. Muitos estudos têm sido feitos sobre este tema e já foram estabelecidas associações entre determinados poluentes, como o ferro, e várias patologias.

O ferro que existe no ar e que constitui um poluente potencialmente perigoso para o Homem tem origem principalmente nos travões dos veículos, nos carris dos elétricos e dos comboios, assim como em processos metalúrgicos.

O ferro (Fe) assim como outros elementos metálicos são potencialmente prejudiciais para os seres humanos pois podem reagir com o oxigénio do ar formando óxidos que causam inflamações no corpo. Por exemplo, há indícios de que a magnetite, um óxido de ferro (Fe3O4), que existe no ar pode entrar no cérebro pela via respiratória e desencadear o desenvolvimento de Alzheimer.

Tendo em vista a manutenção de um ar de qualidade no planeta e em particular nas zonas urbanas é indispensável a sua monitorização regular.

Habitualmente são utilizadas estações de monitorização de qualidade do ar, no entanto a qualidade do ar varia muito mesmo em curtas distâncias, sendo por exemplo bastante diferente a qualidade do ar numa rua inclinada junto a um semáforo e a uma paragem de autocarro e na mesma rua numa zona sem inclinação e sem obrigatoriedade de parar. Assim, é muito importante que para um controlo eficaz da qualidade do ar sejam identificados, à escala local, os pontos associados a uma diminuição dessa qualidade para que possam ser tomadas as devidas medidas de remediação.

Plátano – Platanus orientalis com casca fácil de recolher

As cascas das árvores são um material potencial para o estudo da poluição por partículas do ar uma vez que sendo constituídas por tecido morto elas são acumuladores passivos dessas partículas. Acresce ainda que as árvores se encontram dispersas nas cidades. A quantificação das partículas, em particular dos óxidos de ferro, nos seus sumidouros, a casca das árvores, poderá ser um indicador útil da poluição do ar.

O ferro é um elemento indispensável às plantas para a síntese de várias proteínas e como tal faz parte dos elementos químicos que a planta precisa de ter à disposição nas suas células. Assim, as plantas adquirem o ferro do solo, juntamente com a água e outros nutrientes.

Após a sua entrada nas raízes, o ferro (Fe3+) entra nos tecidos de transporte da seiva bruta, o xilema, sendo progressivamente levado ao caule, às folhas e às sementes. O ferro (Fe2+) é também transportado no tecido de transporte da seiva elaborada, o floema, percorrendo todos os órgãos da planta.

Assim, a casca das árvores está exposta ao ferro, quer através do interior da árvore quer pelo contacto com as partículas presentes no ar, no entanto, parece ser de aceitar, como sugerem alguns trabalhos, que o valor correspondente ao ferro com origem no transporte a partir do solo é desprezável, pelo que a casca das árvores é um bom material para avaliar a poluição do ar.

Sendo o ferro um elemento com propriedades magnéticas, e podendo ser um indicador da qualidade do ar, a avaliação da poluição do ar pode ser feita através da medição da suscetibilidade magnética das cascas de árvores colocadas em diferentes locais e assim fazer o mapeamento das zonas com diferente qualidade do ar o que permitirá o estabelecimento de normas adequadas às diferentes zonas.


Bibliografia consultada:

Baptista, Mafalda, et al, 2007, Copper, nickel and lead in lichen and tree bark transplants over different periods of time, Environmental Pollution (2008) 151,  408-413

Blackenburg, Friedhelm et al, 2009. Fractionation of metal stable isotopes by higher plants, Elements (2009) vol 5, 375-380

Brignole, Daniele, et al, Chemical and magnetic analyses on tree bark as an effective tool for biomonitoring: A case study in Lisbon (Portugal), Chemosphere (2018) 195, 508-514

Vezzola, Laura et al, 2017, Investigating distribution patterns of airborne magnetic grains trapped in tree barks in Milan, Italy: insights for pollution mitigation strategies, Geophys. J. Int. (2017) 210, 989–1000

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